Hatha Yoga: Mas afinal, o que seria uma “prática forte”?

Namastê!!!

 

A prática de Yoga nos conduz a questionamentos constantes em relação a nossa própria prática e nossa busca dentro desse caminho. Tento sempre observar quais as motivações que trazem e ajudam a sustentar os praticantes no Yoga, claro que dentro de minha limitação no que compete observar o caminho de outro, mas em especial, essas observações me trazem reflexões importantes no que diz respeito a minha própria busca como aluna e também professora.

Há tempos, talvez anos as pessoas nos procuram querendo experimentar uma aula de Yoga e muitos nos perguntam em relação à intensidade da prática, claro que entendo que as pessoas querem saber em relação a intensidade física, muitos alunos também nos trazem hora ou outra essa questão, de gostarem ou não de práticas mais ou menos “fortes”, alguns com medo, outros com verdadeira devoção.  Também entendo nessa questão o forte como sendo um trabalho físico mais exigente e desafiador. Tem pessoas que gostam de uma prática mais “vigorosa”, outras encontram esse vigor em práticas ditas “suaves”. A questão é que esse tema sempre me deixa uma interrogação na cabeça e hoje conversando com uma colega querida pensei em fazer essa investigação, afinal, “o que seria uma prática forte?”

Em relação a prática de Yoga, “forte” é uma palavra muito relativa, porque o que é “forte” para uns, pode não ser para outros e é isso o que sempre me pegou nessa questão. Tem pessoas que me dizem que gostam de “prática forte”, mas se você a colocar para se sentar numa prática meditativa por 30 minutos, ela se debate que nem um frango indo pra panela, aí então penso, o que é desafiador pra ela não seria a prática física, por que essa ela tira de letra, seria uma prática mais meditativa (independente se de ásanas, pranayamas, mudrás, bandhas, yoganidra…). Já vi também muito aluno fisicamente forte tremer e pingar de suor  numa prática dita suave; e para muitos alunos que estão começando no Yoga, respirar, ficar em silêncio e “até relaxar” podem ser experiências fortíssimas.

Um outro aspecto que acho interessante é que a “intensidade” pode variar  muito de acordo com o momento da sua prática, entendendo que estamos transitando na vida assim como na nossa prática de Yoga, cada momento de nossa vida nos leva a novas reflexões dentro de nossa busca, consequentemente da nossa prática. O que é forte para você hoje, pode não ser amanhã. Uma prática “suave”, que te pede um enraizamento dentro do ásana e no momento presente ou uma prática meditativa pode ser muito mais forte do que uma prática “mega power” de  “Vinyasa”, “Dinâmico”, “Vinyoga” e outros tantos nomes que damos para  prática de Hatha Yoga. E falo isso desprovida de pré conceitos, sempre fui adepta de práticas fisicamente fortes (mas aquelas que eu possa pelo menos respirar) e continuo gostando, mas com desprendimento, porque hoje prefiro gostar de tudo, dinâmico ou lento, forte ou suave, com suor ou sem,  prefiro não me acorrentar a nomes e métodos,  e isso não significa que eu os abomine, já tive, tenho e com toda certeza terei contato com muitos, acho que transitar por eles ao longo da nossa jornada de alguma forma se faz necessário para o nosso crescimento como alunos e professores, mas que seja sempre na energia do desapego, e da não alienação, por que no fim das contas todos nós chegamos ou chegaremos a conclusão de que Yoga é Yoga! O desprendimento é  no sentido de compreender que a prática do corpo é apenas um meio (uma forma de preparar corpo e mente para o estudo, a meditação) e não um fim, pois se ficarmos somente no corpo como objetivo, amputamos o lado mais profundo do Yoga, que é o Conhecimento, a busca por Moksa, a Liberação.

Quando alguém me pergunta “mas com que TIPO de yoga você trabalha?”, “hãaaaaa, não tem tipo de Yoga, tem YOGA”, tudo o que compete a prática física é Hatha Yoga e ponto!!! “Todos os Yogas” são simplesmente Yoga! A separação acontece na nossa mente e não na filosofia. Mas claro que não respondo assim né?..rs. Respondo sim! Só que de forma empática, acolhedora e educada! Digo que é “Yoga Tradicional ou Clássico”, aí acho que a pessoa já visualiza a professora de “colant” e meia calça de fundo,  falando lento e baixinho e os alunos no ásana quase dormindo na sala, e para finalizar o cenário, o incenso com a musiquinha zen tocando ao fundo, e muito mantra Om…

E, falando da figura do professor dentro dessa reflexão, acredito que um bom profissional deva encontrar um equilíbrio entre esses “opostos”, pois força e suavidade precisam andar juntinhos na prática, à  não ser que se queira trabalhar somente com “Yoga pra quem pode”, e quem pode tudo é quem tem “saúde” e tá com tudo em cima, mas sinceramente não é esse o quadro mais comum dos alunos que nos procuram hoje. O profissional que realmente trabalha com “Yoga pra quem precisa” e também para quem pode é claro, precisa desenvolver a sensibilidade de  perceber quando precisa ser mais firme ou mais suave e com cada um, dentro de uma turma totalmente adversa, com alunos que “podem tudo” e com alunos com várias limitações e independente da história de cada um deles oferecer as ferramentas para que esse aluno deixe o Yoga (que já está nele) florescer! É claro que temos as nossas preferências, temos dosha! Temos os nossos “gostos e aversões”, mas esse assunto fica para um outro post…

E finalizando, se nos aprofundarmos um pouco mais em nossa compreensão do Yoga como um estilo de vida e não simplesmente nos limitando a ásanas e pranaymas (mega importante, mas não tudo! Yoga como “meio”, não como um “fim”) quando você passa por algo que te desafia, talvez uma perda significativa, uma doença ou qualquer outra coisa que seja difícil para você lidar nesse mundo tão relativo, aquele momento onde você é desafiado a colocar em prática os valores que a prática nos trás (Dharma), e ser coerente em agir de acordo com o que você sempre acreditou ser o melhor, aí é que pega! Nesse momento você vê que a sua “prática forte” de ásanas tava é bem fácil! E é por isso que “forte” pra mim hoje é muuuuuuuuuuuuuuito questionável!

 

Harih Om!

 

Texto:  Tatiane Mosca

Ilustração: Huan Gomes

Recomendo: http://www.yogajournal.com.br/bem-estar/para-que-fazer-contorcionismos/

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